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Data: 15/05/2015

Protocolo: 00183/2015

Situação: Aprovada

Regime: Ordinário

Autoria: Reynaldo Gregório Junior

Assunto: MOÇÃO DE PESAR PELO ENTE QUERIDO, AOS FAMILIARES E AMIGOS DO SR. ANTONIO CÍCERI.

Justificativa: Nascido em Tapinas - SP em 05 de junho de 1938. Filho de camponeses e neto de imigrantes italianos. Tinha nove irmãos e conheceu cedo o trabalho, ainda na infância. Viveu sua infância e juventude em Cruzeiro do Sul – PR num humilde pedacinho de terra onde céu e cemitério eram companheiros de mistérios e medos. Teve infância e adolescência marcadas por muito trabalho, sem direito a freqüentar a escola. Apesar de ter uma família grande nessa época, sofreu de muita solidão na própria casa. Aos 18 anos serviu o Exército Brasileiro, aprendendo ali uma vida disciplinar extremamente rigorosa, restrita de alimento e marcada por medo. Futuramente em sua casa ele deixou exposta uma fotografia em que montava um cavalo junto com outros recrutas do exército. Aos 20 anos, ainda no Paraná, conheceu Maria de Oliveira, também neta de imigrantes europeus, filha de camponesa e fazendeiro, com uma vida relativamente confortável, estudada, prendada, bonita. Uma boa moça para casar-se. Casaram-se em 18 de maio de 1961. Tiveram uma filha paranaense chamada Maria Neusa, nascida em 1962. Na ocasião, seu sogro Joaquim propôs a Antônio que vivessem juntos para que ele herdasse e tocasse, junto com Maria, todos os seus negócios e suas terras, pois segundo Joaquim, esta neta tornara-se sua razão de viver. Entretanto, quando sua primeira filha completou um ano de idade, Antônio decidiu tentar uma vida diferente em São Paulo, onde não precisasse depender do sogro para nada. Joaquim, triste e decepcionado com a decisão, deu a Antonio e Maria antes da partida somente o dinheiro de uma vaca, que era o costume de se ganhar quando se casava naquela época. E assim, com o dinheiro de uma vaca, embarcaram para São Paulo em um trem de terceira classe, desembarcando na Estação da luz. Antonio alugou temporariamente uma humilde casinha na Vila Nogueira, e, alguns meses depois, comprou um pequeno terreno na periferia de Diadema, onde viveu parte da sua vida e teve com Maria mais três filhos: Magno, Mário e Milca. Foi um período de muitas dificuldades, as quais não impediram que Antonio voasse mais alto, além dos seus limites. Logo conseguiu um emprego de ajudante geral em uma empresa. Apesar de não ter cursado o Ensino Primário naquela época, sua coragem não o impediu de estudar sozinho em casa, fora do horário de trabalho, e conseguir admissão no curso de Ginásio de uma escola da periferia, cuja Diretora prometeu deixá-lo cursar a quinta série noturna desde que ele conseguisse acompanhar o aprendizado com a turma e que aceitasse estudar junto com crianças, já que naquele tempo não existia uma Classe para adultos. E assim, Antonio veio a se tornar o melhor aluno e também “paizão” da turma, onde era muito querido. Conquistou seu diploma ginasial trabalhando durante o dia, estudando a noite e fazendo horas extras aos finais de semana, contando com a ajuda de sua grande esposa que também travou uma incansável luta, fazendo faxinas em casas no Centro de são Paulo, costurando, e fazendo tudo o que fosse possível para ajudá-lo nas despesas da casa e construírem um barraco para viver. Nessa época difícil da sua vida, Antonio foi reconhecido e querido por todos em sua escola e na empresa que trabalhava. Foi promovido várias vezes e em meio a isso formou-se também no Colegial e em seguida cursou Química, tornando-se um grande profissional que veio a chefiar e representar Brasil afora, grandes empresas fabricantes de colchões. Ainda hoje, alguns de seus colchões existem nas casas de filhos, netos, afilhados, pois a cada um que se casava ou neto que nascia nessa época ele fazia questão de fabricar o presente: um bom colchão! Podemos dizer que não existe nenhum melhor do que os que ele fabricava. Apesar de uma vida simples e sem muitos bens e riquezas, Antonio conseguiu transmitir valores aos seus filhos e lhes possibilitou uma vida digna, permitindo que estudassem e trabalhassem. Conheceu Arujá na década de 70, enquanto trabalhava em uma empresa multinacional fabricante de colchões. Suas passagens a trabalho por esta cidade lhe trouxeram encantamento cada vez maior e o sonho de nela viver com sua família. Uma “Cidade Natureza” dentro de todo concreto de São Paulo. Em 1983 mudou-se para Arujá – SP, onde viveu até seus últimos dias. E foi nesta cidade onde viveu a maior parte de sua vida que Antônio construiu e estabeleceu também a maior parte dos seus vínculos sociais e de amizade. Após aposentar-se, abriu uma Casa de Pão de Queijo na Rodoviária, onde passou a ficar conhecido e conhecer muita gente que por ali passava. Ainda em Arujá, sobreviveu a um seqüestro relâmpago em que havia sido jogado dentro de um esgoto. Sem saber como conseguiu escapar, levantou-se e reconstruiu seus dias sem medo. Foi na cidade de Arujá que ele exerceu a atividade de comerciante em sua “Casa de pão de queijo”. Da rotina de comerciante na Rodoviária da cidade, fez amigos e parceiros de dominó e bocha que lhe renderam tardes de distração por muitos anos. Como cristão e freqüentador de missas dominicais, criou laços com amigos da Igreja Católica e também da Seicho-no-ie, cuja esposa é praticante de longa data. Como cidadão e portador de alguns problemas de saúde crônicos, foi um assíduo usuário do SUS. Frequentava constantemente unidades de atendimento em saúde para consultas, exames e também manutenção de curativos em feridas decorrentes do diabetes que apareciam em sua perna. Nesse espaço público de atendimento, cuja realidade conheceu bem de perto, estabeleceu fortes vínculos de amizade, inclusive, convidando profissionais que lhe atendiam, para vários almoços e cafés da tarde em sua casa, com bolo fresquinho e o famoso chá da sua esposa Dona Maria. Nos últimos anos em Arujá, também ficou bastante conhecido por peregrinar na cidade vendendo queijos bem fresquinhos e produtos naturais através do seu gosto por boas conversas, vendas e também por “bater pernas” pela cidade. Isso o ajudava a complementar as despesas da casa depois que a aposentadoria tornou-se a única fonte fixa de renda. Em Arujá, cidade pela qual sempre teve muito carinho, Antonio tornou-se uma pessoa muito querida por onde andava. Plantou muitas boas sementes, algumas delas desconhecidas que só viemos a saber após sua passagem por este mundo. Ainda hoje, após sua partida, pessoas conhecidas e desconhecidas pela família batem à porta de sua casa para transmitir os sentimentos e agradecer à sua esposa por vários atos de gentileza e boas ações que o Sr Antonio fazia quase que anonimamente no seu dia a dia pela cidade. Formou uma família linda onde todos os filhos e netos, apesar das dificuldades, encaminharam-se para o caminho do bem. Antonio gostava muito de “fazer uma” partidinha de baralho junto dos filhos, genros, netos e amigos. Gostava também de bocha e dominó com os companheiros da vizinhança. Às vezes um golinho de pinga antes do almoço... Adorava assistir Chaves e não recusava uma novelinha. Rei do Gado, segundo dona Maria, era uma de suas preferidas e ele não perdia um capítulo sequer. Conviveu com alguns problemas de saúde como diabetes e hipertensão, mas era feliz, viajava e lutava constantemente para viver. Nos últimos meses que esteve entre nós, parecia pressentir inconscientemente sua breve partida. Viajou para diferentes Estados brasileiros visitando irmãos e parentes, o que veio a ser uma despedida. No dia 17 de abril de 2015 teve uma hemorragia cerebral causada por um aneurisma. Ainda assim, ficou consciente por cinco dias a espera de uma cirurgia. Nesse período refletia sobre sua vida, perdoava e pedia perdão e ainda cantava balbuciando trechos de músicas sertanejas que adorava, entre elas, Ipê Florido. Contudo, seu estado de saúde foi se agravando e na tarde do dia 25 de abril sua partida veio e nos deixou muitas saudades. Infelizmente essa história está sendo contada sem a presença dele entre nós, mas com certeza ele está conosco de alguma maneira, escutando essa sua história que tanto gostava de contar e repetir. Oferecemos a você, Antônio, esta história, juntamente com a música “Naquela Mesa” e agradecemos a todas as pessoas que de alguma maneira participaram dela. Agradecemos aos que neste momento tem você na memória e no coração, contando e revivendo sua linda história. Estamos felizes por ela não ter sido perdida no tempo, mas viva e semeada nos corações dos que tiveram o privilégio de conhecê-lo e compartilhar vida com você. Homenageamos-lhe com suas últimas palavras nos últimos instantes de lucidez: “Quero continuar jogando baralho, mas não quero mais ganhar dinheiro, pois já sou muito rico por ter ao meu redor um tesouro que poucos têm: uma família maravilhosa e unida. Já sou muito rico e feliz”. Deixamos nosso adeus, Sr Antonio, na certeza de que essas suas palavras ficarão para sempre em nossas memórias, em nossas vidas. Você viverá para sempre em nossos corações e em nossa saudade. Homem guerreiro tinha na sua cabeça o objetivo de trabalhar, constituir sua família, criar seus filhos e netos, contudo o destino quis abreviar sua trajetória de vida, certamente vai olhar por todos de onde estiver. Motivo pelo qual rogo especial atenção quanto à aprovação deste singelo ato, que com certeza irá promover um pouco de alento aos familiares e amigos. Requeiro ainda que seja dada ciência deste singelo ato, enviando- se cópia da mesma a família do Sr. Antonio Cíceri, a quem expresso nossos votos de estima e consideração.

Texto: REQUEIRO à Douta mesa, após deliberação favorável do Egrégio Plenário, que seja apresentada a moção de Pesar à família do querido Antonio Cíceri.


Arquivos

Tipo Descrição Extensão Data Tamanho
MOÇÃO DE PESAR ANTONIO CICERI .docx 15/05/2015 41,5 KB

Documentos de Sessão

Documento Sessão Data Fase
Expediente 98ª Sessão Ordinária de 2015 18/05/2015 Leitura

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